Aline Online

Vou deixar aqui anotações e descobertas dess trilha que decidi fazer para fora do controle absoluto das big techs. Não desejo mais participar de uma rede de consumidores passivos que são moldados por algoritmos.

Estava me faltando experiências significativas. Eu entrava na internet esperando aprender algo, me informar e rir porém tinha dias que me desconectava triste. Na parte do "me informar" é difícil não sentir tristeza, mas não era apenas sobre os fatos. Eu via as conversas se tornarem campos de batalha de linguagem ultra violenta. E não, não estou falando de publicações anti-racista e anti-fascista. Estou falando de posts bestas de Instagram sobre cachorrinho, sobre ideias para o cuidado com a casa, sobre cortes, coloração e penteados, toda e qualquer amenidade é pretexto para guerras verbais.

Eu participei por anos de conversas sobre esporte e tive que me retirar, acreditando que era o desfecho inevitável porque uma garota no meio de marmanjos só podia dar nisso 1. Hoje eu vejo garotas muito mais cascudas, confrontando caras muito mais hostis. Eu as admiro, mas não quero isso pra mim. É cansativo desviar de ataques, proteger nosso espaço, performar excelência (e isso piorou depois que passatempos viraram trabalhos monetizados pelas plataformas).

Pois bem, quando eu vi que o pessoal perde a linha falando de cachorro, preferência alimentar, fundamentos da linguística, gosto musical, aparência de mulheres maduras, e idosas (e jovens e crianças também...) eu me silenciei. Virei leitora e eventualmente comentadora de "muito bom isso aí. Obrigada."

A leitura de A máquina do caos: como as redes sociais reprogramaram nossa mente e nosso mundo me ajudou a entender o papel das plataformas na degradação da convivência. Entendi que a gente não conversa mais, a gente ou produz conteúdo ou senta e engole o conteúdo que o algoritmo despeja garganta abaixo. A gente não troca experiências, a gente grita uns com os outros. Se enfiar em uma discussão é ruim mas é irresistível, porque significa estar recebendo atenção e encontrando companheiros de batalha. No fim, tudo se resume a tempo de tela. Para nós, uma válvula de escape. Para as plataformas, audiência e informações pessoais a serem vendidas.


Alternativas

Música

Voltei a baixar mp3, comprei um music player 2 e montei um servidor Plex. E sabe de uma coisa? Estou baixando muito mais conteúdo legal, distribuído pelos artistas. O acesso a streammings baratos me fez uma ouvinte preguiçosa e imediatista. Tinha tudo à mão, não achava nada bom. Agora eu garimpo, baixo, jogo no mp3 sem internet. Bateu um desespero: como vou baixar e ouvir tanta novidade? Pois bem, estou com uns 5 discos de artistas independentes, que tive que ouvir na ordem, prestando atenção. Alguns me conquistaram imediatamente. Outros eu estava achando meh mas por preguiça de plugar o mp3 no pc e apagar, fui deixando e semanas depois já estava prestando atenção e achando bom! Não vou ouvir tudo e não tem problema.

Redes

Eu abandonei o twitter em 2012. Depois voltei apenas como leitora usando conta fake. Minha identidade era usada no Facebook (grupos de leitura e faculdade) e Instagram (Studygran e conversinhas com parentes). Meus blogs foram deixados de lado. A dinâmica das redes dava a entender que eu não tinha mais nada de interessante para escrever, e mesmo publicando bobagens inofensivas eu corria o risco de me mandarem enfiar o post lá mesmo. No Ig de estudo eu postava um memezinho e recebia uma resposta de viés político de 3 laudas de um professor (que nem era meu professor). Abri uma conta no Daylio, um aplicativo de diário pessoal. Só escrevi para mim mesma.

No Grande Êxodo do Twitter de 2024 eu achei contas minhas abertas e largadas no BlueSky e no Mastodon. Achei o ambiente do BlueSky muito agradável até conhecer o Mastodon, que simplesmente me botou pra conversar com pessoas, postar coisas e reabrir um blog. Pra quem? Pra mim e pra quem porventura o encontrar. Eu não preciso de impulsionamento e de engajamento, não preciso de métricas de likes e compartilhamentos. Eu não vivo disso! Eu preciso me expressar e conhecer as paixões verdadeiras de outras pessoas!

Leituras

Meus registros de leitura estão no Goodreads desde 2011. Até lá levei patada. Li 5 livros num ano e tive que ler "isso é o que eu leio em uma semana". Eu gosto de contabilizar, é um número que faz parte do meu "balanço de fim de ano", mas eu não estou competindo com ninguém.

Hoje não vejo mais sentido em continuar alimentando o Goodreads da Amazon. Estou organizando minhas leituras num app só no meu celular e no eggplant.place quando quero incluir um link em uma conversa.

O fediverso

Eu quero postar minhas fotinhas no Mastodon mas quero olhar pra cara delas na galeria do Gran.social que é mais bonitinha. E quero os posts dos livros no Eggplant aparecendo na timeline das tags br do mastodon. E quero também uma timeline sem bots, tigrinhos e propaganda.

Dá certo? Não me pergunte como, mas dá!

É tudo do mesmo dono, tipo a Meta? Não! são redes descentralizadas e, se eu quiser, posso abrir minha propria plataforma (instância) particular lá no notebook caindo aos pedaços que está rodando o Plex e dá certo!


Tem que ser nerd?

Não tem. Ajuda e mal não faz. E vamos falar a verdade: tá muito fácil hoje em dia. Nós estamos mal acostumados pelos algoritimos, pelos apps e plataformas, mas olhando um pouquinho pro lado vemos que as ferramentas de publicação estão muito fáceis de se aprender a usar!


Outras vozes

Textos sobre o mesmo tema.

me desconectando das grandes plataformas


  1. Meu blog se chamava O Exercício do Otimismo Insano. No post de encerramento eu escrevi "Esse é o espírito do Exercício do Otimismo Insano, que vou levar comigo para o resto da vida." Tomara!

  2. Não é mais mp3/mp4 player, agora o bichinho toca todos os formatos! Mas "music player" é muito gringo e "tocador de música" é esquisito. Ipod não existe e Walkman é caríssimo.